Professores se unem e realizam cirurgia
Bianca Ramos da Silva foi atingida por uma facada há 7 meses e buscava ajuda financeira para realizar procedimento de retirada das próteses de silicone. Professores do curso de Medicina se mobilizaram para operá-la sem custo algum
Se existe uma pessoa que passou por grandes reviravoltas durante o ano de 2020, essa pessoa foi Bianca Ramos da Silva, mulher transexual moradora de Assis que, conforme noticiado pelo portal de notícias Assiscity, reagiu a um assalto em abril e acabou sendo atingida por uma facada no seio esquerdo, o que acabou levando a uma série de infecções que, caso não fossem tratadas a tempo, poderiam acarretar em complicações mais sérias e graves. Por isso, como é dito no texto da matéria publicada pelo portal no domingo passado, dia 29 de novembro, Bianca estava pedindo para que as pessoas contribuíssem financeiramente com sua vaquinha online, que tinha como objetivo angariar fundos para que ela pudesse ser atendida por um cirurgião plástico na rede particular, uma vez que a rede pública de Assis não tem a especialidade no município.
O médico cirurgião plástico Ricardo Estefani, professor do curso de Medicina da Fundação Educacional do Município de Assis (FEMA), foi uma das pessoas que se sensibilizou com a história de Bianca e decidiu tentar mobilizar uma forma de ajudá-la. Assim que viu a notícia no Assiscity, Dr. Ricardo entrou em contato com a Santa Casa de Assis, através do funcionário Edmar Luis de Oliveira, chefe da enfermagem da unidade, que prontamente mobilizou a Secretaria Municipal da Saúde de Assis para que a paciente fosse localizada.
Um dia depois, Bianca Ramos teve uma consulta no ambulatório do Dr. Marcelo Gonçalves. “Ela procurou diversos atendimento pela cidade, na UPA e em postos de saúde, a lesão chegou a ser suturada e até se iniciou tratamento com antibióticos, mas começaram a aparecer diversas infecções locais. Quando li a notícia e vi que ela estava com a prótese extrusada, com uma parte exposta, ou seja, com uma infecção grave, pensei que nós tínhamos que tentar ajudá-la. Entrei em contato com o Dr. Felipe Vicente, que também faz parte do nosso corpo clínico da cirurgia geral da FEMA, e com o Edmar”, relata o professor Estefani.
Depois de uma série de antibióticos intravenosos que Ricardo e Felipe pediram para o pré-operatório, a cirurgia aconteceu na última quarta-feira, 2 de dezembro, logo pela manhã, em uma das salas de cirurgia da Santa Casa de Assis, que além de ceder o espaço também doou os insumos que foram usados na cirurgia. A cirurgia foi coordenada pelo Dr Ricardo, que sendo cirurgião plástico, trouxe tranquilidade para toda a equipe que estava presente. “Nós retiramos as duas próteses, uma delas tinha um ferimento exposto e uma perfuração grande, provavelmente pela facada”, conta o médico.
Sem dúvidas, 2020 foi um ano daqueles. Principalmente para Bianca, que passou os últimos 7 meses com um ferimento e cheio de incertezas, correndo vários riscos de agravamento conforme o tempo passava. Mas, graças a humanidade e solidariedade de pessoas que ela nem conhecia, 2020 vai terminar de uma maneira especial, “quero agradecer primeiramente a Deus, aos médicos profissionais que cuidaram do meu caso e os alunos que acompanharam também, a Santa Casa por ceder o espaço e a todos que me ajudaram de alguma forma. Me chamava muito a atenção a falta de humanidade com que eu estava sendo tratada, depois de tudo o que aconteceu eu passei a acreditar mais no ser humano, me sinto muito grata à todos que se mobilizaram de alguma forma”, relata Bianca.
Toda essa mobilização só foi possível graças à parceria que a FEMA tem com a Santa Casa de Assis, local em que os alunos do curso de Medicina realizam o internato. Histórias como essa fazem com que a comunidade tenha a dimensão da importância do curso de Medicina para Assis que, de acordo com o professor Ricardo, “chegou para mudar o cenário de Assis e mostrar o quanto é importante que nossos alunos tenham acesso a casos que até não sejam corriqueiros, mas que mudem de fato a qualidade de vida das pessoas. Esse é o grande foco do nosso curso e da disciplina de cirurgia geral, nesse caso”, finaliza Ricardo Estefani.
